A ansiedade é um desafio crescente na sociedade moderna, e o uso cada vez mais intenso de dispositivos eletrônicos, como smartphones, computadores e TVs, tem sido apontado como um fator contribuinte. Para os homens, em particular, a relação entre o tempo de tela e a saúde mental apresenta nuances importantes que merecem atenção. Dados recentes indicam que o uso excessivo pode exacerbar sentimentos de estresse e ansiedade, impactando negativamente o bem-estar e a qualidade de vida. Este artigo explora os riscos específicos associados ao uso desmedido de telas no contexto da saúde mental , apresenta sinais de alerta e oferece estratégias baseadas em evidências para ajudar homens a se protegerem e cultivarem uma relação mais saudável com a tecnologia.
Por que os homens são mais vulneráveis?
Embora o uso excessivo de telas represente um risco para a saúde mental de todos, alguns fatores podem tornar os homens particularmente vulneráveis ao desenvolvimento ou agravamento da ansiedade nesse contexto. Questões culturais e sociais frequentemente moldam a forma como os homens expressam e lidam com suas emoções. A pressão para serem fortes, independentes e não demonstrarem vulnerabilidade pode dificultar a busca por ajuda e a discussão aberta sobre sentimentos de ansiedade ou sobre o impacto do uso de telas em seu bem-estar.
Além disso, o tipo de conteúdo consumido online e as interações em plataformas digitais podem diferir entre homens e mulheres, potencialmente expondo os homens a gatilhos específicos para a ansiedade. Por exemplo, a cultura dos jogos online competitivos, a comparação social em redes sociais focadas em desempenho ou status, e a exposição a conteúdos que promovem padrões irreais de sucesso ou masculinidade podem contribuir para o aumento do estresse e da insegurança. A dificuldade em estabelecer conexões sociais profundas e significativas no ambiente online, em contraste com a aparente facilidade de interação superficial, também pode levar a sentimentos de isolamento e solidão, fatores conhecidos por exacerbar a ansiedade.
Ainda é necessário mais pesquisa focada especificamente nas diferenças de gênero na relação entre o uso de telas e a ansiedade. No entanto, ao considerar as normas sociais de gênero e os padrões de uso de tecnologia, é possível identificar áreas onde os homens podem enfrentar desafios únicos e, portanto, serem mais suscetíveis aos efeitos negativos do tempo excessivo de tela em sua saúde mental.
Sinais de que o uso de telas está afetando sua saúde mental
Identificar os sinais de que o uso de telas está impactando negativamente a saúde mental é crucial para buscar ajuda e implementar mudanças. Em homens, esses sinais podem se manifestar de diversas formas, por vezes mascarados por comportamentos socialmente mais aceitos ou pela relutância em admitir vulnerabilidade. Alguns dos indicativos mais comuns incluem:
•Aumento da irritabilidade e impaciência: Sentir-se facilmente frustrado ou irritado, especialmente quando impedido de usar dispositivos eletrônicos ou quando a conexão é interrompida.
•Dificuldade de concentração: Notar uma diminuição na capacidade de focar em tarefas que não envolvem telas, como leitura, conversas ou trabalho.
•Alterações no sono: Ter problemas para adormecer, permanecer dormindo ou sentir que o sono não é reparador, frequentemente associado ao uso de telas antes de dormir.
•Isolamento social: Preferir interações online a encontros presenciais, afastando-se de amigos e familiares no mundo real.
•Sentimentos de inquietação ou nervosismo: Experimentar uma sensação constante de apreensão ou dificuldade em relaxar sem estar conectado.
•Comparação social e baixa autoestima: Sentir-se inadequado ou inferior ao comparar a própria vida com as representações idealizadas vistas nas redes sociais.
•Negligência de responsabilidades: Deixar de cumprir obrigações no trabalho, estudo ou em casa devido ao tempo excessivo gasto em telas.
•Preocupação constante com notificações e interações online: Sentir uma necessidade compulsiva de verificar o celular ou as redes sociais, temendo perder algo importante (FOMO – Fear Of Missing Out).
É importante estar atento a esses sinais em si mesmo e nos homens ao redor. Reconhecer o problema é o primeiro e mais importante passo para buscar soluções e recuperar o controle sobre a relação com a tecnologia e a saúde mental.
Estratégias práticas para reduzir o impacto das telas
Reduzir o impacto negativo do uso excessivo de telas na saúde mental masculina envolve a adoção de estratégias conscientes e a criação de novos hábitos. Não se trata de demonizar a tecnologia, mas sim de utilizá-la de forma equilibrada e intencional. Aqui estão algumas estratégias práticas:
•Defina limites de tempo: Estabeleça horários específicos para o uso de dispositivos eletrônicos e utilize ferramentas ou aplicativos que ajudem a monitorar e limitar o tempo de tela. Ser honesto sobre quanto tempo você realmente gasta online é o primeiro passo para a mudança.
•Crie zonas livres de tela: Determine áreas da casa ou momentos do dia onde o uso de telas é restrito, como durante as refeições, antes de dormir ou no quarto. Isso ajuda a promover a desconexão e a interação social no mundo real.
•Desative notificações desnecessárias: Reduza a tentação de verificar constantemente o celular desativando notificações de aplicativos que não são essenciais. Isso diminui as interrupções e a necessidade de validação constante.
•Substitua o tempo de tela por outras atividades: Engaje-se em hobbies, atividades físicas, interações sociais presenciais ou momentos de relaxamento que não envolvam dispositivos eletrônicos. Descobrir novas paixões e reconectar-se com atividades offline é fundamental para o bem-estar.
•Pratique a atenção plena (mindfulness): Esteja presente no momento atual, observando seus pensamentos e sentimentos sem julgamento. A atenção plena pode ajudar a reconhecer os gatilhos para o uso excessivo de telas e a desenvolver uma resposta mais consciente.
•Avalie o conteúdo que você consome: Seja seletivo com o que você assiste, lê ou segue online. Priorize conteúdos que agreguem valor, inspirem e promovam o bem-estar, em vez daqueles que geram comparação, inveja ou ansiedade.
•Busque conexões reais: Invista tempo e energia em construir e manter relacionamentos significativos com amigos e familiares no mundo real. A interação social face a face é um poderoso antídoto para a solidão e a ansiedade.
A implementação dessas estratégias pode exigir tempo e esforço, mas os benefícios para a saúde mental e o bem-estar geral são significativos. Pequenas mudanças consistentes podem levar a uma relação muito mais saudável e equilibrada com a tecnologia.
Quando procurar ajuda profissional
Reconhecer os sinais de que o uso de telas está impactando a saúde mental é um passo importante, mas saber quando buscar ajuda profissional é fundamental. Se você, ou umalguém próximo a você, apresentar os seguintes sinais de forma persistente e que interfiram significativamente na vida diária, é hora de considerar o suporte de um profissional de saúde mental:
•Sintomas de ansiedade ou depressão que não melhoram: Sentimentos constantes de preocupação excessiva, tristeza, desesperança ou perda de interesse em atividades que antes eram prazerosas.
•Dificuldade em controlar o uso de telas: Tentar reduzir o tempo de tela sem sucesso, sentir-se incapaz de ficar longe dos dispositivos por longos períodos, ou experimentar irritabilidade e abstinência ao tentar diminuir o uso.
•Impacto negativo nas relações e responsabilidades: O uso de telas está prejudicando relacionamentos pessoais, desempenho no trabalho ou estudo, ou levando à negligência de cuidados básicos com a saúde e higiene.
•Pensamentos intrusivos ou obsessivos relacionados ao online: Passar grande parte do tempo pensando em atividades online, verificando redes sociais, ou sentindo uma compulsão incontrolável para estar conectado.
•Uso de telas como mecanismo de fuga: Utilizar dispositivos eletrônicos para evitar lidar com problemas, emoções difíceis ou situações estressantes na vida real.
•Sintomas físicos persistentes: Experimentar dores de cabeça, tensão muscular, problemas digestivos ou outros sintomas físicos que podem estar relacionados ao estresse e à ansiedade exacerbados pelo uso de telas.
Um profissional de saúde mental, como psicólogo ou psiquiatra, pode oferecer o suporte necessário para entender as causas subjacentes da ansiedade relacionada ao uso de telas, desenvolver mecanismos de enfrentamento saudáveis e, se necessário, indicar tratamento adequado. Buscar ajuda não é sinal de fraqueza, mas sim de coragem e autocuidado. Existem recursos disponíveis, e dar o primeiro passo em direção ao suporte profissional pode fazer uma grande diferença na recuperação do bem-estar e no estabelecimento de uma relação mais equilibrada com a tecnologia.
Conclusão
O uso excessivo de telas representa um desafio significativo para a saúde mental na era digital, com impactos notáveis no aumento da ansiedade, especialmente entre os homens. Compreender os riscos, reconhecer os sinais de alerta e adotar estratégias proativas são passos essenciais para mitigar esses efeitos negativos. Ao estabelecer limites saudáveis, buscar atividades offline e fortalecer conexões interpessoais no mundo real, é possível cultivar uma relação mais equilibrada com a tecnologia e promover o bem-estar mental. Lembre-se que buscar ajuda profissional não é um sinal de fraqueza, mas sim um ato de força e autocuidado. Priorize sua saúde mental e tome medidas hoje mesmo para proteger-se dos impactos do uso excessivo de telas.
Se você se identificou com os sinais apresentados ou conhece alguém que possa estar enfrentando dificuldades, não hesite em buscar apoio. A saúde mental é tão importante quanto a saúde física, e cuidar dela é fundamental para uma vida plena e significativa. Explore outros conteúdos em nosso blog sobre saúde mental masculina e bem-estar, e considere agendar uma consulta com um profissional qualificado para receber orientação personalizada.
Referências
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